sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O DIREITO DE DIZER NÃO

Recentemente, conversando com um colega, deparei-me com a típica situação de uma pessoa que estava em dificuldades com outra por ter se comprometido com algo que não conseguiria cumprir. Ela havia dito “sim”, quando na verdade, deveria ter dito “não”.
Após ministrar um pouco sobre a importância de se observar o princípio da verdade e da sinceridade ao colega, tive a nítida impressão de que as minhas orientações não haviam sido bem recebidas por ele. Refletindo sobre esta situação, compreendi que realmente, a primeira vista, nos parece um tanto extremista ou, no mínimo, exagerado este princípio. A verdade reside no fato de que temos, muitas vezes, o hábito de “relativizar” princípios e valores e aplicá-los conforme nosso interesse ou conveniência. Por outro lado, é bastante comum encontrar pessoas que não compreendem a profundidade e a importância de se observar o princípio do “sim” e do “não” e, principalmente, de seu caráter absoluto.
Grande parte das pessoas tem dificuldade em falar “não”. Isso significa que dizem “sim”, mesmo quando gostariam ou deveriam dizer “não”. Essa atitude acarreta sérios problemas físicos e emocionais, além de graves implicações no âmbito dos relacionamentos. A incapacidade de dizer “não” aprisiona pessoas, torna-as reféns de situações e provoca toda sorte de conflitos e sofrimento. Várias são as causas que podem provocar este comportamento. Entre elas, está a baixa auto-estima. As pessoas acreditam que precisam dizer “sim” para serem aceitos ou parecerem melhores. Violentam-se em detrimento de um compromisso assumido, sujeitam-se a todo tipo de embaraço e, por fim, entram num processo de depressão e autocomiseração.
Outra causa freqüente é o sentimento de culpa, que faz com que a pessoa sempre concorde com os outros como forma de reparar ou minimizar esse sentimento. Dizer “sim” quando não é possível, ou quando não gostaria é uma atitude extremamente danosa a si mesmo e ao próximo. Ao contrário, dizer “não” quando realmente não se deseja, ou quando realmente não há possibilidade, além de ser um direito, é um ato de bondade e não de egoísmo ou maldade.
O equilíbrio entre dar e receber é uma das leis da vida salutar nas relações com os outros. No entanto, só se consegue atingi-lo quando dizemos “não” ao que nos pedem além do limite. E isso não significa ser maldoso ou insensível. Na maioria das vezes é possível dizer “não” de maneira amorosa.
Atualmente, há na literatura médica, vários estudos relacionados a doenças psicossomáticas, incluindo a oncologia, que reconhecem a importância de se aprender a dizer “não” como um dos melhores recursos para aliviar o estresse - causador de boa parte das enfermidades.
No contexto pedagógico, não há como educar falando predominantemente “sim”. A disciplina dos filhos é obtida dizendo “não” quando é preciso, o que é uma unanimidade entre os especialistas em educação. Isso sim é amar.
Nas relações comerciais, dizer “sim” quando na verdade se deveria dizer “não” acarreta graves consequências. Uma delas é que se está sempre cedendo ao cliente mais do que pode: mais descontos, mais prazos para pagar, menor prazo de entrega, mais crédito a quem não merece, etc. Muitos dizem “sim” para evitar constrangimento na hora, mas depois, quando se deparam com a realidade, acabam não cumprindo o combinado. No atendimento ao cliente, frente à impossibilidade, é muito mais valioso e construtivo falar “não”. O não cumprimento do combinado gera adjetivos como incompetente, desonesto, fraco, mentiroso, entre outros. Além disso, mina a relação de confiança com cliente.
Confiança é a base de todo relacionamento. Leva muito tempo para se construir e poucos segundos para se destruir. O firme fundamento está na verdade. A verdade do sim e do não.

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